domingo, 4 de novembro de 2007

Troca de calores


O noivo chegou atordoado. Lançou as contas sobre a mesa, folgou a gravata que o sufocava e caiu como podre na poltrona. Aquele calor era deveras estressante. Pensou em todos os compromissos ainda por fazer e tirou uma gota generosa de suor da testa com sua mão rechonchuda. Quatro e meia. Olhou pela janela e viu as ondas de calor emergidas do asfalto. Infernal viver naquela cidade, pensava. Cinco. Nenhuma coragem. Olhou mais uma vez pela janela, suspirou, tentou tomar fôlego para levantar mas foi inútil. A camisa ensopada começava a grudar no corpo, a agonia tomava conta. Ainda assim a fadiga vencia qualquer desconforto. Cinco e meia. O telefone toca. Ele olha com grande irritação para aquele malquisto objeto de sua casa. Insiste o infeliz em tocar. O calvo acalourado resolve, movido pelo ódio fulminante, pular da poltrona, não para atender o maldito e sim para lança-lo janela afora. Os bons modos vencem. Era ela, Ela. Doce, interrogativa, vitimando-se, acarinhando, oferecendo cura. Fim de conversa. Seis, sete, oito. Planos largados e trocados por um delicioso e espumoso banho. Dádiva, bendito, glória! Sobrou ao cevado sorrisos. Toca, agora a campainha. Quanta irritação! Ódio infindo de sons incovenientes. Insistem, resistem, utilizam nós de mãos como apelação. Bufa de ódio, enrola na toalha e vai, pingando a casa toda. Ela, com um sorriso de “Olá, querido” rasgando todo o rosto o abraça, armadura perfeita para aquele nervoso esbraseado. Dois corpos n’água. Nove, dez, onze... O calor lá fora cessa, cá dentro abrasa.

2 Comments:

Jeniffer Santos said...

uau!

belissimo conto Tai...gosteiii d+++!

mas pera ae...onde a noiva estava enquanto ele estava nessa agonia td?

hum... o.O


beijos!

Samantha Abreu said...

primeiro,
obrigada pela visita ao Falópio!

e depois...
teu blogue é muito bom, e os textos são ótimos!
parabéns!