domingo, 28 de outubro de 2007

Conversa de comadres


E nunca pense
que faço apologia
ao meu sentimentalismo descontrolado.
Não!
Só estou te mostrando
o lado bom
da minha moeda,
tentando te comprar – pode ser.
Porque o que eu quero é
deitar, rolar, ralar de amor,
sentir o cérebro corroer de culpa
por aquela ligação impulsiva,
o coração partir em mil,
masoquisar a vida
em trezentos amores semanais
ou eternizar a brisa
cheiro-de-rosa
num daqueles romanescos casais eternos.
Mas, minha cara,
entenda,
teu racionalismo tem prazo de validade,
dura até o duro virar líquido,
até você se derreter
e perder as rédeas.
Verás, acredite em mim, verás.
Quando estiver cega de amor.

sábado, 27 de outubro de 2007

Lançar-se


Entrou em seu vestido rubro
Disritmando qualquer tristeza
Na rua fez barulho
E fartou do vinho com justeza.

A sorte lida pela espanhola
Os planos para a noite enluarada
Tudo a postos, pássaro fora da gaiola
E hoje é dia da alegria escancarada!

Moçoilos aos xavecos
Deitam elogios desavergonhados
Mas será forte, espera
Difícil com tantos sussuros melados.

No último gole da madrugada
Quem és tu? Onde estou?
Deitada no peito em pêlos, atrapalhada
Mas satisfeita por tudo que restou.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Não se vá, menina


Hoje me apanhou subitamente a nítida certeza de que a maturidade está a postos em mim. Assisti a uma cena minha que de pronto me lançou numa reflexão perturbadora. Vinha do colégio, fatigada pelo sol tórrido alagoinhense a fritar meus miolos, quando reparei quatro colunas sustentando o teto da varanda de um bar que se encontrava fechado. Logo me veio a idéia de brincar agarrando cada um deles, deixar meu corpo girar ao seu redor, ir passando de um por um. Oh! Como seria divertido! Adoraria pôr em prática. Olhei em volta, havia pessoas. Que tristeza... Mas que nada! Danem-se as pessoas! Passou a primeira coluna. Ah! Mas tenho vergonha – pensei. Lá se foi a segunda. Mais uma olhada em volta, o pensamento me forçava a ver como seria delicioso folgar ali. Mais uma coluna passava. E depois a quarta. Acabou. Contive-me, repreendi meus ímpetos e não fiz nada. Acabava de sufocar minha criança interior. Caminhava, sem desviar o caminho, nem olhar pra trás, tampouco me arriscar. Aquilo me angustiou bastante. Quantas vezes disse que iria manter-me infantil o quanto pudesse, que mesmo adulta jamais mataria a Taiane criança. Mas não, a vida tem sua ordem própria, obedecemos às tendências psicológicas de cada idade. Talvez isso não seja essa tragédia toda que fiz e sim um sinal – positivo – de amadurecimento. Além disso não se pode continuar a agir como criança para sempre, seria tolice.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um copo bem cheio de eu


Como dá trabalho ter este coração de menina-moça-mulher romântica. Eu sempre dou risada dos meus pezares. Quanta tolice! Sabe aquela que se deixa levar por marés boas e acariciar a alma por olhares pseudoapaixonados? Sou eu. A ligação pele-coração aqui é super eficiente. Até demais! Difícil é trocar de pele toda vez que o coração alarma perigo. Ai ai... este órgão pensa que manda, tão sem razão e ainda quer ter voz, como pode? Ninguém sabe... O que sei é a agonia de viver num despenhadeiro ora favorável ora desesperador. Ruim não é olhar lá pra baixo e ver o quanto meu corpo vai sofrer quando espatifado estiver e sim contemplar o céu azul tão lindo, pincelado de aves a planar, admira-lo tanto, tentar o tocar e ter por dentro a convicção do quão difícil isto é. Pois então... cada um tem lá suas pontadas internas, talvez esta seja a minha, mas não tenho certeza, nem sei se isso é mesmo um azar ou uma tristeza em demasia. Sentir-se assim é bom; desesperar, apertar o peito, alagar olhos, mirar o vazio numa lembrança que de tão doce arranca um risinho fino... Tudo isto nos ajuda bastante, tomar nosso sumo assim bem concentrado é uma dose perfeita de releitura pessoal. Momento ímpar.

Jhenni, do http://subindonotelhado.blogspot.com/ mandou...





1. pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. abrir na página 161;
3. procurar a 5ª frase completa;
4. postar essa frase em seu blog;
5. não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6. repassar para outros 5 blogs.





Minha frase: " - Estiveste doente? - exclamou Jorge espantado."

O primo Basílio - Eça de Queiros





- quem quiser faz! :P

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Eu vi a tua Dolly!


Pode parecer coisa boba, raiva a toa, mas me irrita muito, me tira o salto! Consigo conceber criatividade deficiente, pouca inteligência, profundidade minguada; mas falta de personalidade é inconcebível! Não há nada mais “tapa na cara” do que ver sua idéia tronchamente estampada nos pertences doutrem. Assistir sua construção pousando de alheia na mão de um medíocre qualquer que, de tanto admirar seu feito e admitir para si próprio a impossibilidade de fazer algo similar por inspiração, resolveu “paraguaiar” sua lâmpada acesa cabeça acima; é de aumentar a pressão! Não se trata apenas de um capricho, por querer ser reconhecido pelo vanguardismo, não...não é isso. É questão de mérito, de ética, caráter. Não deixa de ser um furto, um vandalismo desavergonhado. Admirar, ovacionar, utilizar como base para uma obra futura, tudo isso é válido e lícito, mas xerocar é provocação. Sou de agüentar as raivas, medir palavras e ceder sempre um espacinho a mais, mas chega uma hora que o pote extravasa e não tem fineza certa! É como uma leoa defendendo a cria. Assim sou eu com minhas crias. Sempre fui e pelo andar da carruagem sempre serei. Não vejo mal algum nisso, é apenas uma maneira de garantir a legitimidade dos atos. E será que é tão difícil assim não copiar e arriscar algo próprio - ainda que ruim? Ou será que agora vou ter que patentear tudo? Ai ai...

domingo, 21 de outubro de 2007

Me nina, menina


A minha vida
na cadeia do pensamento
mãos, pés, língua
atados.
lágrimas em precipício
e tu com isso?
E eu, e nada
Abalos na estrutura
Gelatinando fibra por fibra.
Aquele ombro amigo
Em Footlight MT Light
Verde-petróleo
Macio, macio...
E nada.
Remédios não servem
Buscas inúteis
Eu preciso de mim
Isso sim
E só me encontro na cama
Boa noite.

sábado, 20 de outubro de 2007

Me abraça


Eu escrevi três textos, planejei falar de amor e sensações similares; mas não cabe. Comecei o dia bem, algumas conquistas materiais, felicidades. Só que é incrível como isso que tanto buscamos – felicidade – dura o instante exato de você inspirar, sentir e expirar.Só! O dia desenrolou e as verdades foram batendo na minha porta pouco a pouco. Ultimamente eu tenho me sentido assim, com vontade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Vontade de apertar alguém bem forte e não largar mais nunca, vontade de contar tudo que me passa pra alguém interessado, vontade de me sentir segura, vontade de não ter que voltar, vontade...vontade... Acho que no fundo eu só precisava disso, falar. Não consigo nem organizar nada hoje, vai do jeito que saiu. Ta difícil. 02:30, domingo,outubro, 2007...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

E viro loba...


A madrugada é mesmo o berço das inquietudes psicológicas, digo porque me mostro em reviravoltas no desenrolar da ponte noite-dia. É difícil acreditar que neste horário tão produtivo as pessoas cismam em dormir. Veja só, dormir?! Não minha gente, como vocês são capazes? Este é o período do dia em que nós somos mais nós, no qual a negritude celeste facilita as ligações neurônicas e nos vemos impulsionados a aprofundar discussões – muitas vezes íntimas e solitárias. Pelo menos é desta forma que eu visualizo as horas posteriores à meia-noite. Como era de se esperar, este pequeno pensamento que vos trago foi tecido nas gélidas horas da antemanhã, enquanto procurava ingenuamente organizar alguns quebra-cabeças pessoais e deparando com a certeza de que nem tudo pode ser resolvido sozinho e pior, que quase tudo depende da boa vontade de Chronos, parei de digladiar com minhas âncoras – as quais minha personalidade, que tende ao drama, faz questão de manter a manutenção do aumento do peso - para degustar o frescor das três da manhã e conseqüentemente ir pouco a pouco caindo nos braços de Morpheu.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Clareando idéias turvas


Hoje Maristela acordou bem cedo. Debruçou-se sobre a janela e engoliu preguiçosamente o horizonte ainda sonolento. Sua cabeça estava em redemoinhos , sentimentos em revolta naquele pobre peito feminino, mas aquela aurora dava um tom ainda mais melancólico aos seus emaranhados sentimentais. É difícil definir o que a mexia, ora achava ser o fato de ter visto seu sonho acabado e a realidade devastadora a retirar o papel de parede deixando aparecer aquela vida tão cheia tédios; ora sentia-se estranhamente satisfeita por ter se livrado de algumas manchas cardíacas arroxeadas , feridas ridículas e medíocres. Suspiros a parte, lá estava ela, vendo Eos abrir o dia, tingindo o céu com seus róseos dedos, a pensar em qualquer solução para aquietar tantas pulsações descontroladas. Suas mãos delicadas a apoiavam o enigmático rosto, transparente e tão confuso quanto o interior. Ela precisava de uma solução qualquer para o dia seguir tranqüilo , ficar daquela maneira seria demasiadamente doloroso. Pensou, calculou, mediu, sentiu cada opção e se viu presa em mais um dilema: racionalizar seu sentimento ou provar a vida sem remédios? Não dava pra se desprender de tudo que a perturbava, por mais que pensasse nenhuma resolução seria suficientemente eficaz. Então deixou tudo assim como estava, o Sol a clarear os sentidos, a vida a traçar horizontes aleatórios e ela ali, a saborear tudo isso, de cara nua, sem véus nem passos medidos.

domingo, 7 de outubro de 2007

Meus olhos num domingo à noite






Eu preferia não cantar tristezas nesta noite de domingo
Tampouco falar de vazios interiores, lembranças cortantes
Não... definitivamente não queria
Mas há um firmamento em trajes negros
Cobrindo a cidade e cuspindo verdades inflamáveis
Um vento que espalha solidão pelas ruas e toca as feridas
É impossível não sentir, fechar os poros e passar intactos
E então, afetada fui, afetada estou faz tempos
As dores me comem pela beirada, cruamente numa ira sem fim
Eu me sinto partes, numa incompletude significativa
Talvez o desejo de lacerar seja supremo agora, ontem
Mas o abismo é pouco pro espaço que há aqui
Melhor seria o horizonte em colher farta
Isso sim... um rio de possibilidades
De luzes atraentes e histórias recheadas de vida
Muita vida para minhas depressões
E cortes?
Cicatrizantes eternos, ou não tão eternos assim
Apenas dormentes, aos olhos, ao coração
E agora é hora de dormir
de esconder dos pensamentos os desejos vãos
de mostrar ao coração os planos em verde musgo
de repousar o corpo e poupa-lo desta alma fervilhante.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Relatividades


E quando o ocaso vier,
Fazendo real
O cumprimento do dia que cai,
Acendendo brasas adormecidas,
Atiçando leões mornos,
Findando todo o concerto
De pássaros cândidos;
Eis que por um acaso,
Ou como queiram,
Conserto do destino,
Notas cálidas serão acentuadas,
A penumbra ascenderá
E fará das ruas
Assento da lua.
Mas nas janelas das moças,
Pobres moças!
Ficará do comprimento exato
Da solidão.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Ponto continuativo




E os planos que teci

embebedada num suspiro falso teu

hoje os dilacero

não por ódio ou desgosto

mas por falta de futuro.

De que adianata regar o estéril

berrar aos ventos, nadar contra a correnteza?

E é por isso que hoje eu derramo

o vazo cheio, eu entrego, rendo

dou o último passo e lanço no espaço

cada parte desta quimera.

Ó tola iniciação, ó pesares deixar-te.

Mas é o regaço que encontrei

para repolsar este pobre âmago.

E sobre este ponto continuativo

Recomeço falando de mim

tão somente de mim

eu eu-lírico, eu protagonista

eu corpo, eu alma

eu cuidados, eu trato

um eu por mim e mais ninguém

efêmero, decerto.